quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Qual é a situação atual da ciclovia da Via Expressa, em Maceió?

Bom, depois da demora pela falta de tempo ontem que foi compensada por uma postagem "drops" colocada ontem, hoje trago a situação atual da ciclovia que era para ser uma solução a um problema crônico em Maceió, que leva à triste realidade de que quase todos os dias, haja uma morte envolvendo ciclistas que sofrem acidentes na Via Expressa (ou Avenida Menino Marcelo), que liga a parte alta da cidade aos bairros da Serraria e Barro Duro.

A situação da ciclovia é só o resultado de uma falta de política pública para a Via Expressa, que na verdade é uma rodovia federal (BR-316) e que foi feita, ainda no final dos anos 70, com o objetivo de ligar o interior do estado até o porto de Maceió, no bairro de Jaraguá. A pista seria duplicada, com 80 metros de largura e com passagens de nível e ciclovias para a população poder se locomover ao longo da extensão da rodovia. Contudo, não foi isso que aconteceu.

Primeiro, o que foi feito para ligar o porto ao interior ficou pelo meio do caminho, pois a Via Expressa acaba ainda no bairro da Serraria, próximo ao GBarbosa. Depois, a pista não é duplicada, é simples, com mão dupla e que teve o seu acostamento transformado em outra faixa de rolamento, o que faz com que a pista tenha hoje 2 faixas de cada lado e nenhum espaço para acostamento. Além disso, o que era para ser uma pista de 80 metros de largura acabou tornando-se uma pista com 12 metros de largura e, em alguns pontos, com casas e lojas bem ao lado da pista, o que na prática transformou a rodovia em uma das duas principais avenidas de ligação entre a parte alta e o centro da cidade. A outra são na verdade duas, as Avenidas Durval de Goes Monteiro e Fernandes Lima, que hoje na verdade são separadas apenas no mapa. Mas a realidade das duas avenidas é a mesma. Não há espaço para pedestres, ciclistas e motociclistas nessas pistas. Em relação aos motociclistas, estes se viram como podem para se encaixar entre carros, caminhões e ônibus para se locomover.

E entre ciclistas e pedestres a situação é ainda pior. Sobre os pedestres cabe aqui uma remissão a uma futura postagem, mas sobre o assunto de hoje vale a pena relatar como está a situação atual da ciclovia da Via Expressa, que foi uma obra iniciada em 2007 e, oficialmente, concluída neste ano, com o objetivo de aumentar a segurança dos ciclistas numa pista sem acostamento e com grande fluxo de carros (20 mil por dia, segundo recentes dados do DNIT).

As verbas foram enviadas pelo governo federal, responsável pela rodovia, para a feitura das obras, mas o que se vê ao longo da avenida, na verdade, é uma obra descontínua, em que há uma mistura de trechos onde nem existe ciclovia, com outros trechos onde a ciclovia virou um monte de barro e mato entre dois meios-fios, enquanto existem pequenas partes em que existe realmente uma ciclovia, mas que é pouco utilizada pelos seus maiores beneficiados, os ciclistas.

Vale lembrar que a cidade de Maceió dispõe, hoje, de três ciclovias. A maior delas se encontra na orla da cidade, entre as praias da Pajuçara e Jatiúca, como se vê nas fotos abaixo, a primeira da parte da praia de Sete Coqueiros, a segunda da parte da praia de Jatiúca. Além dessa, existe outra (que deveria se conectar à Pajuçara) que vai da Praia da Avenida até o porto de Maceió. Como essas obras são bem recentes (de remodelamento da orla da cidade), confesso não saber se a parte das ciclovias da Jatiúca foi ampliada até a praia de Cruz das Almas. Mesmo assim, todo esse trecho é de responsabilidade da prefeitura municipal. Esse sistema de ciclovias serve não só para locomoção dos ciclistas que trabalham na parte baixa e moram na parte alta como também servem para o lazer da população que mora naquela área.






Já na parte alta da cidade, mais precisamente no Distrito Industrial, existe uma ciclovia, inaugurada recentemente, que liga justamente essa parte da cidade, que fica no Salvador Lyra, até a Via Expressa, na parte próxima à lagoa de macrodrenagem no Distrito Industrial. É uma ciclovia muito bem sinalizada e que tem sido utilizada pelos ciclistas que, em sua maioria, moram nos conjuntos próximos ao seu local de trabalho. O trecho não é tão longo mas é muito importante, especialmente pelo fato de que na Avenida em que a ciclovia se encontra há um fluxo intenso de caminhões e ônibus, veículos que geralmente são letais em uma colisão com uma bicicleta. Já na Via Expressa...



A foto acima mostra as obras da ciclovia da Via Expressa, nas proximidades da entrada do Cambuci. As obras foram concluídas oficialmente há alguns meses, mas o que se vê na verdade é uma obra inacabada. Para quem vem da parte central da cidade (sentido centro-periferia) a ciclovia fica desse mesmo lado. O início da ciclovia deveria ser justamente no cruzamento da rodovia com a Avenida que liga a Via Expressa ao Barro Duro, mas só se vê a ciclovia, em um pequeno trecho, depois do GBarbosa, entre um trecho em frente ao jornal Tribuna e algumas lojas próximas. Um trecho que não deve passar de 200 metros. Depois disso, ciclovia só volta a aparecer bem distante, após o novo trevo feito para ligar a nova avenida que conecta a Avenida Fernandes Lima à Via Expressa. Nesse outro pequeno trecho (que nem deve chegar a 1 quilômetro) a ciclovia está bem conservada, porém nem é sinalizada para pedestres e automóveis. O trecho acaba no posto Jacutinga.

Essa realidade dos postos é a mesma ao longo de toda a ciclovia. Sempre que existe um posto de gasolina nas imediações, a ciclovia sequer foi construída, certamente para não incomodar o comércio (até porque não sei que outra razão existiria, o que de forma alguma justifica). Após o posto Jacutinga existe um trecho descontínuo de ciclovia, que oscila entre uma pista bem conservada (mas com muito mato em volta) com alguns pontos em que a ciclovia volta a acabar ou mesmo se mistura com a calçada usada pelos pedestres. Esse trecho descontínuo vai até a concessionária Auto Vanessa.

Depois disso começa um novo trecho descontínuo, que vai até a entrada do Benedito Bentes. Essa parte varia entre uma parte bem conservada da pista (principalmente depois do posto de gasolina até a distribuidora AM Comercial) e uma parte que nem foi feita, já que o desnível de mais de um metro de altura entre a pista e os terrenos ao lado não foi nem modificado, o que leva a entender que sequer foi iniciada a obra nesse trecho. Mas o pior ainda está por vir.

Depois da entrada do Benedito Bentes, a ciclovia acaba. Num trecho de mais de 5 quilômetros, não existe forma segura de transporte para os ciclistas. Mas havia, até o ano passado, uma parte de ciclovia nessa parte, ao menos na área em que hoje se constroi o Shopping Pátio, que será inaugurado em breve. Nessa parte, o que era para ser a ciclovia acabou se tornando a calçada do Shopping. A partir daí não existe mais nada e vira um verdadeiro "salve-se quem puder". Passa-se pela entrada do Graciliano Ramos, Acauã, Ernesto Maranhão e Condomínio Tabuleiro dos Martins sem nenhum metro de ciclovia. E a pior parte é a subida, depois do posto de gasolina, onde além de não haver acostamento ainda existe uma parte de morro, onde não há como escapar em caso de acidente. Eu inclusive já vi, por duas vezes, ciclistas que foram atingidos por caminhões nessa parte da pista e que foram arremessados no paredão, fazendo-os morrer na hora. Cenas deprimentes que várias pessoas estão diariamente submetidas por falta de um espaço em que elas possam circular com suas bicicletas. E assim segue até a Polícia Rodoviária Federal, onde a ciclovia deveria acabar.

Bom, nessa descrição detalhada da situação atual da ciclovia da Via Expressa podem ser detectados três problemas principais: um, que envolve todos nós, contribuintes, é sobre o destino deste dinheiro, afinal foram milhares de reais invstidos em uma obra inacabada (e que nem há mais previsão de conclusão, porque oficialmente ela já está concluída); dois, a falta de uma política pública municipal que privilegie outros meios de transporte que não os automóveis. Com isso, falta uma interligação entre as ciclovias, que seria mais provável entre as ciclovias do Distrito Industrial e a da Via Expressa, bem como o Plano Diretor da cidade (que nem de longe é seguido pela prefeitura) prevê que as ciclovias da cidade possam ser interligadas, o que levaria à construção de outras, ligando outras partes da cidade.

E, em terceiro lugar, a situação deplorável a que se submetem diariamente milhares de maceioenses, que se veem num dilema difícil de ser resolvido: de um lado, não têm dinheiro para pagar a passagem abusiva cobrada pelos coletivos da cidade: 2 reais. Além do mais, o transporte é precário, faltam ônibus para atender a demanda, e ainda levam mais tempo do que o necessário para chegar ao destino, dados os engarrafamentos diários no trânsito da cidade. Por outro lado, como não têm como pagar pelo transporte, eles têm que se locomover a pé ou de bicicleta. Como tudo em Maceió é muito distante para ir a pé, restam as bicicletas e, dessa forma, não há escolha, os ciclistas têm que arriscar sua vida para poder sobreviver. E neste caso a ciclovia da Via Expressa ganha em importância. Isso porque, na parte alta da cidade, milhares de pessoas usam a bicicleta como principal meio de transporte e até mesmo de trabalho, já que muitas pessoas vendem alimentos utilizando-se das bicicletas. Então, para os que vivem na Via Expressa, a ciclovia seria fundamental para melhorar um pouco a segurança e a qualidade de vida de grande parte da população, especialmente aquela que não possui condições de arcar com 120 reais mensais a ser gastos com passagens de ônibus.

Por fim, nas partes onde a ciclovia existe, há muita reclamação por parte dos motoristas de que os ciclistas não obedecem à ciclovia e continuam andando ao lado da pista. Nesse ponto, há o erro dos ciclistas, mas o principal erro é da administração da rodovia, que não sinalizou a pista e nem fez nenhuma campanha educativa para mudar os hábitos dos ciclistas. Todos sabemos das dificuldades em se mudar os hábitos da população. No caso dos carros, vimos, nos últimos anos, campanhas pelo uso do cinto de segurança, pelo respeito à faixa de pedestres, entre outras. E por que não conscientizar ciclistas, pedestres e motoristas da importância das ciclovias? Esse processo nem sequer foi iniciado pelos responsaveis pela ciclovia da Via Expressa, o que complica ainda mais a situação na área.

Ainda falta muito, pois, para que Maceió possa ter um sistema de transporte que privilegie a locomoção de quem não possui automóvel na cidade. Pra falar a verdade, quem tem carro mal consegue se locomover, imagine para ciclistas e pedestres? Sem dúvida, é um problema sério e que, infelizmente, ainda vitimará de morte muitos outros ciclistas.

P.S. Em tempo: segundo estatísticas oficiais da SMTT (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito de Maceió) somente no ano de 2008, 1.200 ciclistas morreram em acidentes no município. É um número alarmante e que requer mudanças de rumo urgentes nas políticas públicas de adequação do trânsito aos ciclistas desta cidade.
Bom dia a todos.

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