quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A década que se inicia será a da valorização do professor?

Chegou o momento de solucionar o problema crônico da desvalorização do professorado brasileiro.

A este respeito, caberá à mídia acompanhar o que for realizado para que a profissão docente ganhe o prestígio social compatível com sua importância no desenvolvimento do país. A valorização do professor é indispensável na luta por uma educação melhor. Precisamos criar o professor sine qua non. O professor sem o qual falar de educação de qualidade será, no mínimo, perda de tempo.

Na revista Época da última semana de 2010, Ilona Becskeházy, diretora-executiva da Fundação Lemann, enfatiza em seu artigo – "O grande desafio é valorizar os professores" – que esta valorização inclui aumento salarial, treinamento, supervisão e avaliação de desempenho. Em outras palavras, valorizar é investir e, investindo, propor e esperar melhores resultados.

Escrevendo para a edição especial da revista CartaCapital (22/12), o professor Vladimir Safatle diz que "o sucesso do processo educacional tem, como condição necessária, a existência de um corpo de professores altamente qualificado e motivado". Essa motivação, que muito ajuda na hora da formação, está vinculada, sim, à questão salarial. Safatle denuncia o cinismo de quem nega essa vinculação:

"[...] outros gostam de falar que o que motiva professores não é necessariamente o salário, mas ‘a grandeza da profissão’, ‘o prazer de ensinar’ e outras pérolas do gênero. Alguém deveria sugerir uma lei para limitar o cinismo desses arautos do altruísmo alheio."

A década da valorização docente

Seria o caso também de denunciar quem cobra altíssimos cachês (há quem mande a conta em euros!) para, em suas palestras e conferências, escamotear a discussão aberta e urgente sobre a remuneração dos professores, associada sempre, devemos lembrar, às exigências decorrentes da função educativa.

Em editorial publicado no dia 19/12/10, "Brasil nota 6", a Folha de S.Paulo menciona como ponto fundamental do PNE (Plano Nacional de Educação 2011-2020), enviado ao Congresso este mês, a valorização do professor da rede pública na educação básica. Tal valorização requer a definição de um rendimento médio que leve em conta o tempo de escolaridade necessário para formar um docente.

A permanência de Fernando Haddad no MEC é, em princípio, a garantia de que, para alcançar as metas de uma educação melhor, o tema da valorização docente deixará de ser um tema a mais. Deve tornar-se questão crucial, como dá a entender o próprio ministro:

"Se nós não fizermos da próxima década a década de valorização do professor será muito difícil cumprir as metas de qualidade. As metas exigem que nós tenhamos atenção maior com a formação e a remuneração do docente." (iG Brasília, em 15/12/10).

O MEC, porém, não é todo-poderoso. Metas não se cumprem magicamente. O diálogo entre governo federal, governos estaduais e municipais deve concentrar-se na busca de caminhos concretos para que essa década de valorização docente comece a contar desde o primeiro mês, janeiro de 2011. E que a sociedade, com a ajuda da mídia, acompanhe esse diálogo com o devido interesse.

Será que, finalmente, esta será a década da valorização do professor no Brasil? Se será ou não, com certeza o que se sabe é que este processo obrigatoriamente terá que ser alavancado pelos investimentos governamentais, especialmente nos níveis básicos da educação, com o fim de extinguir o analfabetismo. Também terá de existir um investimento maciço para os jovens e adultos com o fim de diminuir ao máximo os níveis alarmantes de analfabetismo funcional imperante em nossa sociedade, especialmente no Nordeste.
Mas só dinheiro sendo enviado não basta, se não, como diz o senador Cristovam Buarque, seria igual a chuva no patio da escola: só faria lama. Na verdade, as mudanças estruturais na educação brasileira também terão de passar, obrigatoriamente, por melhorias na gestão dos recursos que já temos, bem como terá de se fazer um investimento no próprio pessoal que cuida da educação dentro e fora da sala de aula, ou seja, profissionais melhor capacitados são essenciais neste processo.

Começando por este ponto, talvez possamos realmente ter nesta década que se inicia uma valorização maior da educação no Brasil com uma consequente valorização do professor, profissional que representa o elo de ligação entre as políticas públicas educacionais e os destinatários destas políticas e principais interessados neste processo, os alunos, cidadãos que querem ser assim reconhecidos por todos neste país.

Boa tarde a todos.

Extraído do site observatoriodaimprensa.org.br com adaptações.

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