terça-feira, 1 de setembro de 2009

Impressões de 12 dias em Garanhuns - última parte

Bom, depois de uma certa pausa nas minhas "impressões", aqui estão elas de novo. É a última parte, onde, como prometi, falarei sobre dois pontos importantes: a visita ao ponto mais alto de Garanhuns, o Cristo do Magano e, também, tornarei a falar sobre o racionamento de água em Garanhuns, que estava em ponto crítico no fim do ano passado e que sofreu mudanças significativas neste ano.

Cristo do Magano - a visita

Depois de oito anos morando em Maceió, finalmente convenci meus primos a tomarem coragem para subir o alto do Magano, uma das sete colinas de Garanhuns, além de ser o local onde se encontra o ponto mais alto da cidade, a 1040 metros de altitude, o Cristo do Magano. Para mim, foi um momento muito especial, por ser apenas a segunda vez em que estive lá. Na primeira vez, foi há uns 12 anos atrás e tudo estava muito diferente de hoje.
A única coisa que não mudou foi a relativa dificuldade de acesso, já que o ônibus para apenas no pé da serra, além de ser um local pouco habitado, já que a favela próxima ainda tem poucas casas próximas ao alto da colina, acho que mais pelo frio do que pelas dificuldades de habitação na localidade.
A minha relação com a comunidade próxima ao alto do Magano vem desde a época do colégio Santa Sofia, já que eu e alguns amigos fizemos, por dois anos, trabalhos de pesquisa com os moradores da região sobre as condições de vida e sobre a infra-estrutura do local, que pouco mudou daqueles tempos para cá. A favela não tem o estilo dos barracos de madeira muito próximos uns dos outros, que a maioria das favelas brasileiras possuem, porque as casas são de alvenaria. Mas são feitas de forma muito simples, da mesma forma que as condições de vida da população próxima.
Lá na comunidade existe uma creche para as crianças pequenas que é ligada ao colégio Santa Sofia (inclusive tem o mesmo nome) que presta serviços gratuitos às famílias da região e fornecem comida e abrigo para as crianças durante o dia. Na minha época de colégio, nas entrevistas que eu e meus amigos fizemos por lá, as reclamações da população eram em relação à falta de continuidade destes serviços prestados pela instituição, já que muitos se queixavam da pouca oferta de vagas, para aqueles que não conseguiam matricular seus filhos, enquanto os que tinham seus filhos por lá reclamavam que, muitas vezes, o tratamento dado aos seus filhos não era digno, além de que, por muitas vezes, a merenda não era servida às crianças, que chegavam com fome em casa para almoçar. À época, a direitoria do Santa Sofia negou que isso estivesse acontecendo, mas no ano seguinte as reclamações da população se repetiram. Estranho não?
Infelizmente, dessa vez, não tive como conversar com nenhum responsável pelo lar, já que era um dia de domingo, sem atividades por lá.
Bom, mas também devo falar do próprio ponto turístico, do alto do Magano. E o que vi lá teve um lado bom e outro ruim.
O lado bom é que agora, 12 anos depois, muita coisa mudou por lá e para melhor. Havia um guarda municipal de plantão lá, já que o local, por ser desabitado, sempre teve reclamações de turistas que iam até lá e eram assaltados, ou mesmo da população da favela, que reclamava de atitudes suspeitas de certas pessoas que subiam até o alto de carro. Com isso, ao menos existe um pouco mais de segurança na área, mas creio que o guarda municipal somente deva ficar por lá durante o dia. O acesso até lá é por uma via pavimentada, como já era antes, quando fui 12 anos atrás.
A própria imagem do Cristo está muito bem conservada, tendo sido pintada e restaurada recentemente, o que ajudou nas fotos, como a que coloquei acima. Além disso, abaixo da estrutura da imagem, existe uma espécie de guarita onde fica o guarda municipal. Além disso, foi feito um estacionamento com pedras de brita, o que facilita na hora de deixar o carro e subir as escadas para ficar "mais perto do Cristo".
Além disso, ainda foi colocado um piso de cerâmica cercando a base da escadaria, formando uma espécie de "rosa-dos-ventos". Ficou bem bonito.
Mas o que impressiona é mesmo a vista do local. Mas, sem a ajuda de São Pedro, não poderia ter desfrutado da tão famosa neblina que paira sobre a região durante quase todos os dias, especialmente no inverno. Queríamos ir até lá logo cedo, para encontrar o lugar na hora mais fria e com muita neblina, mas amanheceu um dia bem ensolarado, o que não traria neblina. Porém, como o tempo no inverno de Garanhuns muda constantemente, ao meio-dia já parecia que o frio iria voltar com toda força. Quando fomos ao Magano, por volta das 3 da tarde, fazia um frio de rachar por lá, com muita chuva e neblina. Foi sorte!
O mais impressionante foi que, em questão de minutos, a vista de toda a cidade desapareceu. A neblina surgiu tão forte que mal dava para ver o carro, que estava estacionado a uns 20 metros de distância. Foi sensacional, sem dúvida, e minhas primas, que aguentaram o frio de "bater os queixos" comigo por mais tempo ficaram ainda mais maravilhadas, já que ainda não tinham visto como ficava o alto do Magano num dia de inverno.
A parte ruim da história é a seguinte: como o caminho do Cristo passa pela favela, é natural que algumas crianças fiquem por perto, aguentando o frio quase insuportável para pedir dinheiro a quem se aventure a subir a colina. O problema está em quem for desprevenido financeiramente. Enquanto estávamos na parte de cima do Cristo, chegaram algumas pessoas num Golf vermelho mas, pela neblina, não deu para saber se eram turistas de outra cidade ou não. O fato é que, da mesma forma que fomos cercados pelos "pivetinhos", eles também foram. Mas, como não deram dinheiro aos pequenos, estes se aproveitaram das pedrinhas de brita do estacionamento para jogá-las no carro, que partiu em disparada. Por sorte, nem o motorista quis descer para cometer um ato de loucura, nem os pequeninos conseguiram quebrar o vidro do carro. Nós escapamos dessa porque prometemos dar uma gorjeta às crianças, que assim que descemos as escadarias, já estavam nos cobrando o dinheiro. Por isso alerto a quem quiser ir ao Cristo, que leve algum dinheiro para evitar algumas atitudes "hostis" dos pequeninos. E o pior: o guarda municipal viu e não fez nada (mas acho que também não havia nada a fazer, não sei).
Bom, mas valeu o passeio, com certeza e recomendo a quem quiser ir, pois a vista supera todas as adversidades, que não são tantas assim. É só tratar as crianças que lá estejam com carinho que elas não farão mal algum.

Racionamento de água em Garanhuns

Um problema que sempre foi muito grave em toda a região Agreste de Pernambuco, e com Garanhuns não é diferente, diz respeito à falta de água, causada pela deficiência histórica dos sistemas de captação e tratamento da água, de responsabilidade da COMPESA (a empresa de água e saneamento de Pernambuco).
Quando fui a Garanhuns no último final de ano, como já falei em outra postagem, havia lugares onde não chegava água nas torneiras há mais de 60 dias, o que forçava a população a se submeter à humilhante e cruel "indústria dos carros-pipa", que só quem já dependeu desse abastecimento para ter água em casa sabe o quanto é humilhante esperar horas para encher míseros baldes de água suja e barrenta, e que aquela será a única água possível para cozinhar e tomar banho. De água mineral potável Garanhuns sempre foi rica, já que a natureza proporcionou à cidade muitas fontes de água mineral, de qualidade nacionalmente conhecida.
Mas sempre foi um tormento para a população encontrar água para o restante das atividades cotidianas, dada a localização geográfica de Garanhuns, que fica distante de qualquer manancial próximo, rio ou lagoa.
Bom, mas esse problema, que assola a cidade há décadas, parece que finalmente será solucionado. O governo do Estado já terminou uma boa parte das obras de ampliação do sistema de captação de água da cidade, construindo novas estações elevatórias, além de ter conseguido fazer a captação de águas do rio Mundaú, o rio mais próximo da zona urbana da cidade, mas que mesmo assim dista quilômetros do centro, e que, por sinal, é um rio perene.
Isso significa que Garanhuns poderá, finalmente, ficar livre dos tão constrangedores racionamentos de água, ou se estes ainda persistirem, que sejam mais amenos do que em outras épocas. Os resultados já podem ser sentidos. Nos dias em que fiquei por lá, o fornecimento de água foi interrompido apenas por alguns minutos. Com isso, não houve racionamento em nenhum dos 12 dias que passei por lá. Agora, as obras ainda não foram concluídas, o que só deve acontecer no segundo semestre de 2010. Hoje, 70% da cidade já estão livres do racionamento. A previsão é de que, ao final das obras, toda a cidade esteja livre do racionamento.
Espero que assim ocorra, pelo bem da população que tanto sofre, especialmente no verão, a estação mais seca da região, com os constantes racionamentos e cortes repentinos no fornecimento de água.

Assim encerro esta "trilogia" sobre alguns aspectos de Garanhuns que achei interessantes para relatar aqui aos que conhecem e aos que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer a "Suíça Pernambucana". Espero que tenham gostado e não se acanhem em comentar sobre as matérias aqui do blog, afinal não quero que aqui seja igual ao "blog do planalto", que veio para "democratizar" a gestão Lula, mas que não abre espaço para comentários e sugestões dos leitores.
A quem quiser, fique à vontade para comentar, mas é bom sempre que se identifique, claro, para ajudar a que todos os leitores deste blog compreendam as suas intenções gostando ou esculachando o que eu escrevi.
Em breve, novas postagens, isso "agarantio"!
Boa noite a todos.

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