segunda-feira, 15 de março de 2010

O que existe de certeza num ato de "carteirada"?

Repercutiu nacionalmente o fato ocorrido aqui em Maceió na semana passada envolvendo policiais civis e a gerente da rede de cinemas Centerplex, que inaugurou suas salas recentemente no Shopping Pátio Maceió. Infelizmente, alguns policiais acabam manchando a imagem da instituição que compete coibir os atos que ofendem as leis do nosso país, a chamada polícia judiciária.
Alegando estar em situação de "investigação sigilosa" sobre tráfico de drogas na região onde se localiza o cinema, os policiais tentaram se aproveitar do cargo que ocupam para entrar de graça na sessão de cinema do dia mais barato, tentando forçar, por meio da tão conhecida "carteirada" a entrada na sala de exibição, alegando estarem "a serviço da lei".
Legalmente falando, o ato por si só já soa como ilegal, pois não houve nenhum ato do Poder Judiciário no sentido de permitir a entrada dos policiais nem ao shopping, nem muito menos ao "escurinho do cinema" para fazer uma investigação sobre o tráfico de drogas ou qualquer outro assunto.
Quanto à outra alegação dos policiais, de que eles podem entrar a qualquer momento em qualquer recinto, isto é bem verdade. Mas a lei (a Constituição Federal, na verdade) só permite isso para casos de flagrante delito, o que não foi mencionado em nenhum momento pelas autoridades da lei à gerência ou aos atendentes do cinema.
Pior ainda foi o resultado disso tudo: o "passeio", pelo shopping, com a gerente sendo levada pelos policiais para prestar esclarecimentos na delegacia. O cinema fica no piso superior do shopping, mas há uma saída próxima no térreo, por onde a gerente deveria ter sido conduzida. Ao invés disso, o que se viu, pelo circuito interno das câmeras de segurança do shopping foi um verdadeiro desfile feito pelo shopping inteiro com a gerente, para sair na última porta, do lado oposto do cinema. Todo esse constrangimento por causa de uma suposta investigação sigilosa e pelo impedimento de entrada no cinema? Ora, se o problema fosse mesmo esse, poderia ter sido contornado com uma operação feita para abordar os suspeitos na saída do filme, sem maiores transtornos muito menos com nenhum alarde a ser feito a todos os clientes e lojistas dos estabelecimentos próximos.
Para não dizer que foi ilegal e imoral, pode-se, no mínimo, dizer que foi uma atitude desastrada da polícia. Mas, na verdade, o que se viu nesse caso foi só mais um de tantos que vemos diariamente não só nos cinemas e shoppings, mas também em lojas pequenas e grandes, onde alguns daqueles que deveriam representar a lei pretendem se aproveitar de sua função para obter pequenas vantagens e favores, como conseguir um bom desconto, ou mesmo levar um produto por conta da casa, para ajudar a classe tão necessitada.
É verdade (e isso é de conhecimento de toda a sociedade) que os salários pagos aos nossos policiais estão muito distantes do ideal. Mas, imaginem só se todo mundo que ganhasse pouco nesse país resolvesse, ao mesmo tempo, com esse mesmo argumento, entrar nos estabelecimentos comerciais pedindo para levar produtos por conta da casa, para ajudá-los, pois são uma "classe necessitada". Então o que veríamos seria, no mínimo, o caos da sociedade.
Não podemos aceitar esse argumento como desculpa para encobrir a desonestidade dessas pessoas. Principalmente aqueles muitos honestos que trabalham duro e ganham o mesmo que esses que dão suas "carteiradas" por aí. Estes profissionais honestos é que não podem aceitar que suas reputações fiquem manchadas por conta de profissionais desonestos como estes e tantos outros que aparecem por aí aos montes, todos os dias, não só em Maceió, não só em Alagoas, como em todo o Brasil.
Enquanto permitirmos essas condutas e não reagirmos diante delas, só haverá uma certeza nesses atos de carteirada. A de que nós, cidadãos, é que somos os grandes prejudicados diante desses flagrantes atos de desonestidade e falta de cidadania.
Boa noite a todos.

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