sexta-feira, 13 de agosto de 2010

É assim que teremos uma eleição democrática neste país?

Até hoje, limitei-me a apenas observar a campanha eleitoral para presidente e governador por meio da TV e da internet. Mas, diante dos absurdos vistos nos últimos dias praticados especialmente pela mídia televisiva do país, não resisti e resolvi postar pela primeira vez algo sobre as eleições.

Antes de tudo, é sempre necessário salientar o seguinte: as emissoras de televisão são concessões públicas. Todas elas. E, como tais, deveriam, no mínimo, fazer a cobertura das eleições da forma mais imparcial possível, para que o eleitor pudesse escolher, dentre todos os candidatos, aqueles que tenham as melhores propostas para o cargo que deseja ocupar.

Agora, como fazer isso, se os principais canais de televisão, ligados visceralmente a interesses partidários e políticos, têm evitado até mesmo mencionar os nomes de todos os candidatos à presidência ou aos governos dos estados? As emissoras de televisão estão criando, na falta de aprovação de emenda constitucional neste sentido, as suas próprias "cláusulas de barreira", limitando o acesso da grande maioria dos eleitores, que não possuem internet em seus lares, a saber de informações apenas dos "principais candidatos em disputa" (leia-se, dos candidatos que não pretendem mexer muito no que já está sendo feito no país).

Neste sentido, a Band tentou fazer um debate tido por "democrático", apenas para "inglês ver". Logo de início, apenas os candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), participaram do debate. Até aí poderia até parecer que o debate seguiria as regras do TSE, que prevê a obrigatoriedade de que todos os candidatos de partidos que tenham representação no Congresso Nacional devam participar dos debates. Mas não foi isto que ocorreu ao longo do debate. Pelas regras estabelecidas, ficou claro que o objetivo da emissora era o de travar, pelo maior número de vezes, os confrontos entre os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas. Isto diminuiu sobremaneira o tempo de fala dos candidatos Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio, que tiveram praticamente a metade do tempo que acabou sendo disponibilizado aos candidatos Serra e Dilma. Esta visão foi confirmada, após o debate, pelo próprio diretor de jornalismo da emissora, Fernando Mitre, que, bastante satisfeito, disse que nunca antes num debate havia tido tantos confrontos diretos entre aqueles em melhor situação nas pesquisas. Isto realmente pode ter sido bom para a audiência, mas para a democracia...
Se isso já pode ter sido inaceitável, pior ainda foi o que ocorreu depois do debate. Interessada em saber dos resultados do debate e da influência deste na opinião do eleitor, a Band encomendou uma pesquisa a ser feita pelo instituto Vox Populi, para saber qual candidato(a) teve o melhor desempenho no debate promovido pela emissora.
O mais absurdo vem agora.
No questionário, apesar de ter participado do debate, o nome do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, não é citado. Mas apenas os de Dilma (PT), Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).
A certa altura é perguntado ao eleitor: “Pelo que você assistiu, na sua opinião, qual candidato se saiu melhor no debate?”
Como respostas possíveis:
1 - Dilma (PT);
2 - José Serra (PSDB);
3 - Marina Silva (PV);
4 – NS/Não tem opinião sobre isto ;
5 – NR
Outra pergunta: "Em sua opinião, a cobertura da imprensa (emissoras de TV, de rádio, os jornais), sobre a candidatura de____________ (citar um dos 3 nomes) está sendo: mais favorável a ele (a), equilibrada/imparcial ou mais para desfavorável a ele (a)?”.
A resposta também se limita a citar apenas os nomes de Dilma, Serra e Marina.
A resposta a esse absurdo, dada pelo diretor-presidente do Vox Populi, João Francisco Meira, foi ainda pior, em entrevista feita recentemente: “estou preocupado com aquilo que politicamente é importante. O Plínio (de Arruda Sampaio) não está no questionário porque colocamos os três candidatos mais relevantes. O Plínio não é relevante do ponto de vista eleitoral. Não é perseguição nenhuma, mas eleitoralmente ele não é relevante”, ressaltou Meira.

Como se não bastasse, a Globo, emissora de maior audiência no país, tem adotado postura ainda pior na sua cobertura eleitoral. Além de, desde o início da campanha, somente mencionar o dia-a-dia dos "principais candidatos" (Dilma, Serra e Marina), a emissora adotou postura ainda mais antidemocrática ao se recusar a entrevistar todos os candidatos no Jornal Nacional durante esta semana. Pela ordem, foram entrevistados: Dilma Rousseff, na segunda passada, Marina Silva, na terça e José Serra, na quarta-feira. Cada um dos três teve direito a falar por 12 minutos, mais ou menos exatos. Enquanto isso, os demais candidatos sequer tiveram a oportunidade de aparecer em reportagens, mesmo que breves, durante o telejornal. Mas, nem todos foram tão "maltratados" assim. Nesta quinta-feira, como num passe de mágica (já que nada havia sido anunciado antes), o principal telejornal da rede Globo apresentou uma entrevista com o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio. Mas, não foi uma entrevista mediada pelo casal que apresenta o telejornal. Não. Foi uma entrevista editada e gravada, com 3 minutos de duração, comandada pelo jornalista Tonico Ferreira. Nestes preciosos 3 minutos, foi apenas perguntado ao candidato o que sempre o "manual" pede que se pergunte a um candidato tido como de "esquerda" ou "socialista": como o candidato fará para dar o "calote" da dívida externa, por que apoia as invasões de terras, como não desorganizar a economia e não espantar os investidores propondo tamanhos absurdos? Como já era de se esperar em uma entrevista tão imparcial destas, para não dizer o contrário, ficou difícil para o candidato sair deste círculo vicioso de perguntas e pior ainda ficou para o eleitor avaliar alguma proposta que seja diferente da que o eixo das "principais candidaturas" propõe.
Contudo, o pior não foi a entrevista em si, mas a justificativa dada pela Globo para entrevistar o candidato do PSOL de forma distinta dos outros três. Confira abaixo:
Plínio de Arruda Sampaio reclama do tratamento dado a ele pela Rede Globo:
"Eu sou um viajante de avião de classe econômica. Sempre fui. Nunca reclamei. Mas agora eu preciso fazer uma reclamação na Globo. A Globo inventou para o debate presidencial a classe executiva, com os candidatos chapa branca. E a classe que não tem a bancada, que não tem os 12 minutos, para o candidato do PSOL. Essa reclamação você (Tonico Ferreira) leva lá".
O Jornal Nacional informou que o critério da TV Globo foi entrevistar, na bancada dos telejornais, em 12 minutos, os candidatos de partidos com representação na Câmara que tenham ao menos 3% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais, sem considerar a margem de erro. Na última pesquisa divulgada, do Ibope, Plínio não pontuou. Nas próximas, se o desempenho do candidato atender ao critério estabelecido, ele será convidado para entrevistas nas bancadas do Bom Dia Brasil e do Jornal da Globo.

Portanto, a Globo criou a sua "cláusula de barreira": entrevistar de forma igual apenas aqueles candidatos de partidos que tenham representação na Câmara e que tenham ao menos 3% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais. Agora, fica a pergunta: como esses candidatos atingirão o mínimo da cláusula de barreira da Globo se eles sequer são conhecidos do eleitor? Será que o igualíssimo guia eleitoral irá resolver este problema? Definitivamente não.

Bom, eu não me decidi em quem votar ainda e nem tenho intenção de influenciar o voto para algum dos candidatos citados nesta postagem. Mas, confesso que me dá vontade de escrever aqui pedindo que, a partir de agora, o cidadão que seja pesquisado nas ruas, diga que vai votar em qualquer um dos candidatos, menos nos três que estão fora das “cláusulas de barreira” das emissoras de TV, para ver o que aconteceria! Porém, é ingenuidade pensar assim, já que a mídia chapa branca sempre vai achar uma forma de manipular informações e de restringi-las, já que o objetivo deles é o de informar cada vez menos a população, para que os seus próprios interesses não sejam prejudicados pelo próximo presidente a ocupar o Palácio do Planalto.

Por isso, ao contrário deles, defendo o seguinte: eleitor, informe-se o máximo que puder para fundamentar o seu voto: use a internet como ferramenta de auxílio. Busque pelos sites oficiais dos partidos, busque informações diretamente com seus candidatos, evite buscar informações de fontes terceirizadas, como estas emissoras de TV, rádio ou outras e tente, principalmente, olhar sempre com desconfiança as informações que lhe são passadas por esses meios, principalmente nesta época tão importante.

Alguns poderão achar que esse conselho é uma utopia de minha parte, ou mesmo que isso possa parecer uma verdadeira teoria da conspiração. Mas, pare e reflita, depois de ter lido toda esta postagem: não tem alguma coisa errada com essa tal "cobertura democrática e imparcial" que os meios de comunicação no Brasil alardeiam aos quatro cantos nesta época eleitoral? Reflita muito sobre isso antes de assistir aos próximos dia-a-dia dos principais candidatos.
Bom dia a todos.

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