terça-feira, 2 de junho de 2009

Depois de São Paulo, agora é Pernambuco quem recolhe livro didático com conteúdo "impróprio"

Nos últimos meses as Secretarias Estaduais de Educação de alguns estados têm sofrido duras críticas por permitir que livros de baixa qualidade didática cheguem às escolas de ensino fundamental do país. Os casos mais notórios ocorreram em São Paulo, onde, primeiro um livro de Geografia que continha mapas do Brasil e da América do Sul totalmente incorretos foi retirado das escolas, porque no mapa da América do Sul a Venezuela não existia e onde se localiza o Paraguai foi colocado o nome de Uruguai.
No segundo caso, mais recente, um livro paradidático escolhido para fazer parte do programa da 3ª série do ensino fundamental de São Paulo foi retirado das escolas, por conter palavras de baixo calão e incitação à banalização sexual.
Agora é a vez de ocorrer caso semelhante em Pernambuco. Segundo o jornal "O Globo", o livro "Caatinga, paisagem do homem no Nordeste", da Editora Moderna, será recolhido das escolas do estado. O motivo é o seguinte: segundo a deputada estadual Isabel Cristina, do PT, o livro contém informações tendenciosas sobre a natureza do homem sertanejo do Nordeste.
Com base em um estudo feito por diversos educadores, o livro trata o sertanejo de maneira preconceituosa e passa uma imagem totalmente distorcida do que é a caatinga. Há trechos em que, por exemplo, há menção a que "somente o sertanejo, um povo rude, tem condições de viver nessas terras" (o sertão). Em outro trecho, há referência a que o "jumento é o principal meio de transporte" no Sertão e que o "sertanejo é apenas contratado pelo fazendeiro rico do litoral, e que muitas vezes sequer conhece as suas terras".
A Editora Moderna, ao tomar conhecimento do conteúdo, já solicitou a retirada do produto dos pontos de venda e o governo de Pernambuco irá retirar o livro das escolas em que foi distribuído.
Independente da existência de livros com conteúdo tendencioso ou não em relação a qualquer assunto, seja em relação ao sertanejo, seja em relação a outros conteúdos, como nos casos de São Paulo, o que se vê é o claro descaso dos governos com a educação.
Essa situação só ocorre porque os livros escolhidos para as escolas públicas de ensino básico no Brasil seguem a determinação das leis do mercado, onde as editoras repassam aos governos sempre os livros de maior tiragem e que vendem menos que o necessário para cobrir as suas despesas, o que aqui no Nordeste chamamos de "refugo".
Da parte das Secretarias de Educação estaduais, há o total descompromisso em haver um controle de quais livros deveriam ser os mais adequados para a educação das nossas crianças, e quando falo disso não me refiro a uma "censura prévia", mas sim a uma consulta prévia àqueles que melhor conhecem a realidade de nossas escolas: os professores.
Se eles fossem ouvidos pelos engravatados e engravatadas do Executivo, com certeza não seria necessário que, já passados 6 meses de 2009, um livro tivesse que ser recolhido por falta de informações precisas ou mesmo por estar incorreto.
É esse descaso do governo típico na educação, tanto em relação aos alunos quanto aos professores que impede o desenvolvimento do nosso país e nos torna cada vez mais distantes de sermos um povo consciente de nossos direitos.
Mas aqui no Brasil é assim: todos na escola, mesmo que esse "todos" represente mais uma geração de incultos e analfabetos funcionais. E que depois ninguém reclame quando um aluno disser, em qualquer momento da vida, que a Venezuela fica na África, porque no mapa do livro dele da escola a Venezuela não existia, ou que o sertanejo só sabe o que é um carro se tiver uma televisão em casa, porque no livro que ele estudou só havia referência a que o jumento era o meio de transporte do sertanejo.
Portanto, o pior problema destes casos nem deve ser tão sentido por conta dos erros contidos nos livros, mas a demonstração cabal de que a educação no Brasil só serve para formar cada vez mais cidadãos alienados, que possam virar mais eleitores incultos a servir nos currais eleitorais de nossos "nobres" deputados e senadores!
E que ninguém espere que esses sejam os últimos erros encontrados em livros didáticos. Muitos outros ainda haverão de ser encontrados.
Boa tarde.

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