sábado, 30 de outubro de 2010

E o problema das mortes recorrentes de moradores de rua em Alagoas pode ganhar proporção nacional.

Reportagem extraída do site www.terra.com.br, com adaptações.

O secretário municipal de Direitos Humanos de Maceió, Pedro Montenegro, solicitou a participação da Polícia Federal na investigação do assassinato de 30 moradores de rua em Alagoas. Um pedido também foi entregue à Secretaria Nacional de Direitos Humanos, da Presidência da República, para o envio de peritos para a identificação dos corpos, já que eles não têm documentação ou registros nos arquivos da prefeitura da capital.

Pelo relatório do secretário, encaminhado a PF, 52% dos homicídios foram praticados por armas de fogo; 34% com paus, pedras e materiais de construção; e 14% com armas brancas (facas ou punhais). Vinte e nove moradores foram assassinados em Maceió e um na cidade de Arapiraca, agreste alagoano.

O delegado Geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, descarta a existência de grupos de extermínio e disse investigar pessoas suspeitas nos crimes. O Ministério Público Estadual e o Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), ligado ao MP, avançam lentamente nas investigações. Isso porque há dificuldades para se identificar os mortos, por falta de documentos, havendo apenas o testemunho de outros moradores. Dois deles estão no Programa de Proteção à Testemunha por terem informações consideradas valiosas para a polícia.

O arcebispo de Maceió, dom Antônio Muniz, divulgou na tarde desta sexta-feira (29) uma nota com os nomes dos moradores. Segundo o arcebispo, a Igreja tem acompanhado a triste realidade dos moradores de rua, consternando-se com esta forma de extermínio que dos povos da rua, o que é uma ofensa à sensibilidade dos que amam Alagoas e desejam caminhos de respeito e justiça que conduzam a uma convivência fraterna.

Agora, será mesmo que não existe nenhum grupo de extermínio por trás dessas mortes, que têm sido recorrentes nos últimos meses no estado de Alagoas? Não me admirará em nada que seja este o caso, já que, em outras épocas, o costume que foi inserido na cidade de Maceió foi o de "deportar" moradores de rua das áreas centrais da cidade para o interior em uma época, digamos, não muito propícia ao debate sobre a situação de pobreza extrema que estes cidadãos vivem: as eleições. Estes fatos foram noticiados especialmente às vésperas das eleições municipais de 2002 e 2006 aqui na capital alagoana.

Não há como ligar esses fatos atuais ao cenário eleitoral deste ano, já que estes crimes já vem sendo praticados desde o início do ano, mas quero deixar claro que esta prática de "limpar as ruas de Maceió" de moradores de rua não vem de hoje. O que impressiona é a quantidade de moradores de rua que já tiveram que morrer até hoje para que as autoridades municipais pudessem se manifestar oficialmente sobre o assunto. Será que esse mesmo comportamento seria adotado se 30 moradores das coberturas de luxo das praias da capital alagoana já tivessem sido assassinados da mesma forma que os moradores de rua? É por essas e outras que, muitas vezes, me pergunto se vivemos mesmo em uma democracia real ou apenas vivemos um sistema democrático de faz-de-conta. Infelizmente, essa é a realidade. O que não podemos é silenciarmos diante dela. Aguardemos o desfecho dessa história, se é que ela irá se iniciar mesmo. Afinal, são cidadãos "sem lenço e sem documento", não é?
Boa noite a todos.

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