sábado, 20 de novembro de 2010

Novamente o Haiti: agora é a cólera o problema que assola o país.

Quase um ano após a tragédia causada pelo terremoto no Haiti, pouco ou quase nada foi feito para tentar melhorar a situação dos desabrigados nas cidades mais atingidas pelo abalo. As más condições de saúde e saneamento, já típicas de países mais pobres, tornaram-se ainda piores com as péssimas condições de vida de milhares de haitianos que vivem hoje praticamente empilhados em barracas sem as mínimas condições de vida. Estes são os ingredientes clássicos para a intensificação de uma epidemia de cólera que já está vitimando milhares de pessoas naquele país.
A falta de informações precisas sobre a propagação da doença tem feito surgir duas versões (todas erradas) sobre a verdadeira motivação dos protestos da população, que se vê sem alternativas para a prevenção e tratamento da doença. Assim, de um lado parte da população culpa os próprios agentes da ONU pela propagação da doença, os chamados "capacetes azuis", protestos esses que começaram contra os soldados do Nepal e ontem já se estenderam aos soldados brasileiros. Segundo a população, a doença não seria endêmica do país, mas teria sido trazida pelos soldados da ONU quando estes saíram de seus países de origem para o Haiti.
Por outro lado, a ONU associa os protestos dos haitianos ao processo político do país, que deve passar por eleições gerais nos próximos dias. Argumento também errado, pois a mera motivação política não seria o único motivo que serviria a tais protestos. Pode até ter sido o estopim, mas de nenhuma forma pode-se afirmar que esta é a única motivação.
O que importa, o principal nisso tudo é que a população em geral, que se vê sem nenhuma orientação, totalmente perdida e desinformada quanto ao que se deve fazer para que se evite contrair a doença, é quem mais sofre com esse aparente esquecimento que o povo haitiano mais uma vez enfrenta em relação à sociedade internacional. Mais uma vez, tal como ocorreu à época do terremoto, é necessário que mais uma vez divulguemos essa situação caótica na qual aquele país vive para que haja uma mobilização no sentido de que sejam enviadas para lá equipes especializadas para que se possa frear a propagação da cólera, que tem matado milhares de haitianos, que nem depois de mortos terão direito a um descanso eterno decente, pois estão sendo empilhados na rua por não haver estrutura suficiente para que se faça o enterro dos vitimados pela epidemia.
Os únicos organismos que estão neste momento mobilizados nesta tentativa de ajuda ao povo do Haiti são as organizações não governamentais, que já estão com seus profissionais completamente exaustos pelo excesso de trabalho que têm que desempenhar e que, mesmo assim, não tem sido suficiente a atender a toda a população que sofre com a doença. Veja abaixo trechos das declarações dos representantes da organização Médicos sem Fronteiras, extraído do site yahoo, que deixa clara a situação na qual os profissionais da saúde e a população em geral tem passado no Haiti, nos últimos dias:

"O horror humano no Haiti - com corpos de crianças abandonados nas ruas, hospitais apinhados de pacientes com diarreia crônica e cadáveres desidratados sendo transportados em carrinhos de mão - não terminará enquanto a comunidade internacional mantiver a mesma abordagem no combate à epidemia de cólera que já matou 1.186 e deixou 49.418 mil infectados em um mês".

Segundo o médico italiano Stefano Zannini, a ONG Médicos sem Fronteiras hoje responde por 85% de todos os atendimentos de casos de cólera no país. "Esta é a 'república das ONGs', o mundo inteiro está aqui e como pode? Como é possível que, quatro semanas depois do início da epidemia, nós ainda estejamos com todo o sistema médico nas costas? Onde estão todos os outros?"

Stefano Zannini afirma que nenhuma das medidas para conter a epidemia é de caráter médico. Elas dependem de lavar as mãos, ter água potável, dar um destino adequado aos cadáveres e às fezes humanas. "Ora, nada disso é caro nem depende de médicos. Onde está a ajuda internacional?", questionou. Um dos maiores problemas para conter a propagação da cólera é a falta de cuidados básicos de higiene, o que poderia ser combatido com programas relativamente simples, como a distribuição de sabão.

Estima-se que 76% dos haitianos vivam com menos de US$ 3 por dia e 50% tenham menos de US$ 1 por dia. Uma barra de sabão custa, em períodos normais, US$ 0,50 na maioria dos mercados haitianos e, para muitas famílias, lavar as mãos virou um dilema potencialmente fatal entre usar o pouco dinheiro para comprar sabão ou para comprar comida.

Na quarta-feira, o MSF havia lançado um alerta sobre o esgotamento físico e emocional de suas equipes. "A carga de trabalho é estressante. Não é fácil trabalhar com o cheiro, o barulho e a pressão de tantos doentes. Estamos trabalhando 24 horas por dia. Estamos sobrecarregados", disse Zannini.

Aguardaremos a solução deste problema, se possível também com a declaração de ajuda internacional feita pelo governo brasileiro. Que assim seja, e rápido.
Boa tarde a todos.

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