sexta-feira, 29 de abril de 2011

Prefeitura de Maceió lança serviço on-line destinado a receber reclamações dos usuários dos ônibus coletivos da capital. Mas, só isso resolve o problema do transporte na capital?

A SMTT (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito) de Maceió lançou hoje, em seu site www.smtt.maceio.al.gov.br um serviço de recebimento de reclamações e sugestões por meio do centro de informação e atendimento ao cidadão, onde os usuários de transporte coletivo da capital poderão denunciar irregularidades cometidas pelas empresas concessionárias de ônibus que prestam serviço na capital alagoana. Espera-se, com isso, que a população tenha acesso mais fácil ao serviço do que da forma já disponibilizada antes, por meio do telefone 118.

Na verdade, o sistema consiste, basicamente, no envio de informações à superintendência com o respectivo envio das informações do usuário. A princípio, espera-se que essas informações cheguem ao conhecimento dos responsáveis para que as providências necessárias sejam tomadas. Mas, se a eficácia deste novo sistema for igual à do sistema via telefone, então poucas mudanças trará para a qualidade do transporte coletivo em Maceió.

A SMTT argumenta que não recebe atualmente denúncias em número significativo por parte da população. Segundo dados divulgados pelo órgão municipal, são registradas por mês apenas 10 denúncias de passageiros insatisfeitos com os serviços prestados pelas empresas de ônibus. Estes números, com certeza, não refletem nem um pouco a atual situação de desprestígio do transporte coletivo de Maceió frente aos seus mais de 350 mil usuários, pois as condições vistas na grande maioria dos bairros da capital é de total insuficiência da oferta de ônibus para o atendimento pleno da população que necessita dos veículos para se locomover pela cidade.

A situação do transporte coletivo em Maceió atualmente é a seguinte: o número de ônibus circulando na cidade é insuficiente para atender à demanda crescente da população. Segundo informações oficiais da SMTT, hoje circulam em Maceió 648 ônibus, distribuídos em 93 linhas, servindo a todos os bairros da capital. Porém, segundo estimativas, há hoje uma deficiência de cerca de 150 ônibus para atendimento da demanda de passageiros na cidade. Demanda esta que seria provavelmente maior se o valor da tarifa fosse menor ou se, ao menos, houvesse uma oferta ampla de terminais integrados ou de passagens que valessem para mais de uma viagem em determinado período de tempo, como ocorre em outras capitais, como Recife e São Paulo, por exemplo. Com uma oferta melhor de ônibus e a preços mais baixos, mais pessoas poderiam utilizar os ônibus como meio de transporte na cidade, já que pesquisas feitas há alguns anos atrás e veiculadas pela Tv Gazeta de Alagoas apuraram que quase a metade da população de Maceió anda a pé, de carona ou de bicicleta porque não possui condições de pagar a passagem de ônibus, que atualmente custa R$ 2,10.
A uma primeira vista, pode até não parecer uma passagem tão cara, mas para cidadãos que ganham pouco mais de R$ 500,00 por mês, em média, isto pesa muito no bolso no fim do mês, principalmente porque, em muitos casos, é necessário apanhar dois ônibus para se chegar ao destino final do trabalho ou dos estudos.

Um exemplo claro deste problema de falta de integração suficiente entre bairros é o que ocorre com o Shopping Pátio Maceió. Até agora, quase dois anos depois de sua inauguração, as únicas mudanças nas linhas de ônibus que dão acesso ao shopping foram a criação de uma linha de ônibus ligando o Benedito Bentes à Colina dos Eucaliptos e a mudança parcial de itinerário da linha Eustáquio Gomes - Ponta Verde, que agora tem alguns de seus ônibus passando pelo shopping. Isto é muito pouco, especialmente quando se analisa a situação dos bairros mais distantes da capital em face do acesso a este shopping. Se alguém, por exemplo, que mora em Jacarecica, quiser ir de ônibus ao Shopping Pátio, terá de pagar duas passagens para poder chegar ao destino, já que não existe uma linha direta ligando o bairro ao shopping. E este é apenas um dos muitos exemplos que existem na cidade.

A menina dos olhos da prefeitura e de alguns jornalistas locais é a licitação que, há anos, está em processo inicial, dependendo da votação da Câmara de Vereadores. Porém, já há alguns meses, o Ministério Público Estadual tem estado atento a esta demora excessiva no processo licitatório, tendo a promotora responsável pela fiscalização do caso argumentado que a espera pela decisão da Câmara de Vereadores não é motivo para que a prefeitura demore tanto em promover as melhorias necessárias ao serviço de transporte público. Argumento corretíssimo, já que o que está em jogo é o interesse da população e a prefeitura pode muito bem  intervir junto às empresas que já possuem a concessão das linhas, com o objetivo de melhorar a oferta de ônibus para a população. Mas, só a licitação não resolverá o problema, pois a prefeitura também terá implantar projetos que promovam o melhor deslocamento dos ônibus, principalmente pelas principais avenidas, fato que já é complicado, dado o número absurdo de carros e motos que já circulam em Maceió.

Os corredores de ônibus da Avenida Fernandes Lima, por exemplo, resumem-se apenas aos pontos de ônibus que tiveram uma faixa extra criada para a parada deles. Neste caso, realmente funciona. Mas, o principal, que é a faixa exclusiva, esta não passa de uma faixa pintada no asfalto e que não é obedecida, nem pelos motoristas de carros e motos, nem pelos motoristas de ônibus, já que o trânsito vive congestionado o dia praticamente inteiro, fato que tira a paciência de todos os motoristas, que realmente estão interessados, naquele momento, em encontrar um espaço vazio para tentar avançar no trânsito que não anda.

Além disso, existe o problema do envelhecimento da frota de ônibus. É verdade que as empresas têm renovado sua frota, mas também é claro que essa renovação não acompanha a necessidade de reposição dos ônibus mais velhos. É muito comum encontrar ônibus com mais de 10 anos de fabricação circulando pela cidade, ônibus esses que estão com suas latarias muito bem pintadas, o que, para quem vê de fora, parecem até ônibus mais ou menos novos mas, quando se está dentro dele, vê-se muitos insetos, as "baratas de ônibus", como os motoristas e cobradores as chamam, além de muitos buracos na parte interna e no teto, o que se torna um problema quando chove, pois descem verdadeiras "cachoeiras" nas cabeças dos passageiros, além de alguns veículos que circulam sem os vidros das janelas, com para-brisas trincados, lanternas e luzes de freio queimadas e outros tantos problemas que dificilmente passariam despercebidos em uma vistoria feita em um carro de passeio.

Enfim, existem ainda outros tantos problemas, como a demora imensa entre um e outro ônibus da mesma linha, chegando, em alguns horários a ser de mais de uma hora o tempo compreendido entre a passagem de um ônibus e do ônibus seguinte pelo mesmo ponto, o oligopólio das empresas concessionárias, a falta de educação e de paciência de muitos motoristas e cobradores, que, por outro lado, também sofrem com as condições degradantes de trabalho e com o estresse resultante dessa rotina de trabalho, além da concorrência mais recente e da consequente falta de regulamentação das vans e doblôs alternativas, que têm provocado uma verdadeira situação de incerteza e insegurança jurídica para as empresas oficiais e para aqueles que tem ganhado dinheiro transportando passageiros que deveriam ser transportados pelos ônibus.

E, no meio disso tudo, está a população, sempre a mais onerada e vitimada por esta prestação de um serviço público essencial que tem sido oferecida de forma insuficiente e insatisfatória à população.
Talvez se a SMTT realmente fiscalizasse as empresas de ônibus e o que ocorre na prática com as viagens feitas ao longo do dia, essa aparente calmaria de apenas 10 reclamações mensais por parte da população aumentasse a níveis astronômicos, e, aí sim, a prefeitura não tivesse mais desculpas para fazer o que já devia ter feito a tanto tempo, que é melhorar a qualidade do transporte público oferecido à população. Lembrando que um serviço público desta natureza também não deveria ser prestado somente por ônibus, mas que trens urbanos também são fundamentais nesse processo, já que um metrô para Maceió seria, nas condições atuais, ser fruto de um pensamento sonhador ou esquizofrênico, a depender do ponto de vista de quem assim pensa.

Vamos aguardar os desdobramentos desta aparente mudança de ares que a SMTT tem tido nos últimos meses, na esperança de que, ao menos até o final do mandato do prefeito Cícero Almeida, as coisas melhorem um pouco por aqui. E que isso sirva de exemplo para que tal situação não se repita em outras cidades igualmente assistidas de forma ineficaz pelo transporte coletivo de ônibus, como Garanhuns, por exemplo. Mas este é um assunto para uma próxima postagem.

Boa noite a todos.

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