terça-feira, 15 de setembro de 2009

Independência ou morte? Parte 2

Demorei muito mais do que um dia para postar algo novo neste blog. Mas é assim mesmo, tem horas que me falta inspiração, como deve acontecer com todo mundo (eu acho). Como sempre, minhas postagens saem meio que fora de tempo, mas continuam atuais pela importância dada aos assuntos aqui abordados que só param aqui depois de terem sido já discutidos (mesmo que de forma superficial) pela mídia.
O segundo assunto da semana (que aqui já virou mês) da pátria que acredito ser importante neste momento seja a questão do pré-sal, que vem repercutida aos quatro cantos do Brasil pelo governo federal como a "solução para os problemas do país" além de representar "a verdadeira independência do Brasil". Essas frases feitas e bordões, que todos os políticos adoram falar ( e que não só os petistas fazem, já que essa prática parece ser bem antiga, como relembrarei a seguir) nos fazem relembrar como os assuntos estratégicos do Brasil não são discutidos com a devida seriedade com que deveriam ser encarados.
Ninguém discute a importância da Petrobrás para a economia e o desenvolvimento do país. E aqui não tecerei críticas a essa empresa, quer continue sendo pública ou um dia seja privatizada (se bem que pessoalmente prefiro que ela continue sendo pública, talvez por nutrir ainda um sentimento de patriotismo, sei lá). O que criticarei aqui é a facilidade com que as prioridades da empresa são revistas pelo atual governo, que nesses 7 anos já passou do biodiesel ao petróleo do pré-sal, passando pelo etanol. Será que o pré-sal representará mesmo a "verdadeira independência" do Brasil? Ou será mais uma conversa de político, que já aprendemos a nunca acreditar? Tentarei passar aqui as minhas conclusões, mas espero que cada um que leia estas próximas linhas reflita e tire as suas próprias conclusões.
Quando o governo atual começou a mudar a política da Petrobrás, a empresa deixou de ser um grande "dinossauro" para se tornar mais ágil e competitiva. Isso foi um ponto positivo, já que o governo anterior parecia preparar um cenário para a empresa que seria propício a uma posterior privatização, o que hoje não se cogita. Em compensação, a maior competitividade acabou representando uma quase inevitável privatização da exploração dos poços, especialmente os que estão localizados no oceano, o que provocou uma verdadeira "privatização transversal" (termo que inventei aqui para dizer que a privatização não foi explícita, da empresa, mas sim de algumas concessões de exploração, o que não deixa de ser uma forma de privatização).
Até aí, poucas críticas. O que critico mesmo é a aparente mudança de prioridades na exploração dos recursos relacionados à energia e combustíveis no país. Quando o governo Lula começou, a prioridade parecia ser a da busca por alternativas ao petróleo, já que a época vivida não era tão propícia ao "ouro negro": os preços astronômicos do produto no mercado internacional parecem ter forçado o governo a buscar essas alternativas, muito mais do que a busca por uma "energia limpa" tão divulgada nos comerciais do governo àquela época.
Isso foi bem representado pela eleição da produção de biodiesel e a ampliação da produção do álcool etanol como as prioridades da empresa. O que hoje já não mais parece ser tanto assim, já que muitas fábricas de biodiesel estão ameaçadas de fechar as portas e a promessa de renda garantida aos sertanejos, que produziriam mamona para abastecer as fábricas, foi só mais uma conversa de político para não se acreditar. Algumas usinas de biodiesel mal funcionam, principalmente aqui no Nordeste, como também muitas dessas que produzem pouco estão arriscadas de, num futuro próximo, virarem apenas mais ferro retorcido, juntando-se a uma porção de outras fábricas que fecham a cada mês no interior do nordeste brasileiro, seja por falta de infra-estrutura (de estradas, por exemplo), seja pela oferta melhor, dada por outra cidade, de um incentivo fiscal maior para que aquela indústria se instale em seu território. Além do mais, em termos de Nordeste, pouco ou quase nada foi feito em relação ao álcool. A promessa do governo era de alavancar o crescimento e desenvolvimento das usinas canavieiras da região. Mas, pouco se viu de melhora nesses últimos 7 anos.
Agora, a bola da vez volta a ser o petróleo, com a divulgação da descoberta do combustível na camada do pré-sal, no oceano. Mais uma vez, como Getúlio dizia nos anos 50 do século passado, vem à tona a questão do "petróleo é nosso", como também surge a questão da "verdadeira independência do Brasil". O problema é que, há bem pouco tempo atrás, o governo divulgou, em um comercial da Petrobrás uma informação interessante: que a produção brasileira de petróleo atingira níveis tais que tornariam o país auto-suficiente na produção de petróleo. Então aquela já não seria, em tese, uma "nova declaração de independência". E o que seria agora, o lembrete de que já "declaramos a independência" ou que essa sim seria a "verdadeira independência" e a outra não?
O fato é que pouco se sabe ainda sobre a viabilidade e a lucratividade que essa exploração poderá trazer ao país. Perfurar poços de petróleo a 7000 metros de profundidade não é fácil e nem será pelos próximos 10 anos. Então, como será possível essa exploração? De onde virão os recursos para financiar essa verdadeira odisseia da Petrobras? Essas perguntas ainda não foram respondidas ou foram muito mal respondidas pelo governo.
Além disso, há um pequeno esquecimento da Petrobras em relação ao seu principal produto: o da destinação dele, ou seja, para onde irá todo esse petróleo retirado do pré-sal, se o país carece de muito mais refinarias do que tem hoje em dia? Até hoje não deu para entender o porquê da refinaria de Pernambuco, em Abreu e Lima, ter tido a necessidade de ser financiada pela PDVSA, da Venezuela e não exclusivamente pela Petrobrás.
É por essas e outras que a questão do pré-sal é só mais um motivo que veio contribuir para a necessidade de um verdadeiro debate nesse país sobre o que realmente interessa estrategicamente aos nossos interesses, já que o petróleo é produzido diariamente aos milhões de barris, mas não pode ser refinado completamente aqui, por conta da falta de refinarias suficientes. Também o país incentiva as indústrias a utilizar o gás natural na sua linha de produção, mas compra gás boliviano, podendo ampliar (e muito) a produção aqui do próprio país, com nossas próprias reservas, algumas ainda praticamente inexploradas. Há o incentivo, principalmente depois da invenção dos motores "flex" em produzir veículos menos poluentes, que queimem combustíveis mais "limpos", mas o governo busca o petróleo como alternativa para os problemas do país.
Com essa aparente falta de rumo do governo, me lembro então dos países árabes, que possuem prédios faraônicos e constroem paisagens artificiais belíssimas com o dinheiro do "ouro negro", mas têm uma população que, em sua maioria, não se beneficia nem um pouco das benesses trazidas pelos resultados dos milhões de barris de petróleo produzidos diariamente e penso no seguinte: será que o pré-sal representa necessariamente o futuro do Brasil, de todos os brasileiros? Será mesmo que podemos confiar nisso?
É uma boa oportunidade para refletir o futuro do Brasil, com certeza.
Em breve termino essa postagem da independência ou morte.
Boa noite.


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