terça-feira, 26 de maio de 2009

Meia hora de chuva a mais e a enchente de 2004 se repetiria

A notícia não é tão nova assim, mas sempre que acontece, nos relembra fatos que gostaríamos de esquecer. Assim foi essa tarde de 26 de maio de 2009 para os que residem aqui no Graciliano Ramos, Acauã e outros bairros da parte alta de Maceió. Mais uma vez, no fim do mês de maio, uma chuva torrencial castigou a cidade. O que mudou dessa vez foi somente o horário em que ela caiu: foi à tarde, ao invés das habituais chuvas que começam pela madrugada. Foi uma trovoada e tanto: começou por volta das 3 da tarde e só parou depois das 4 da tarde. Isso por aqui, porque a chuva continuou avançando pelo interior, tanto que por volta das 7 da noite já havia inundado o rio Canhoto, em São José da Laje.
Bom, e porque falar de chuva: porque esse é um problema recorrente em praticamente todo o Nordeste, nessa época, e todos os anos as consequências dessas chuvas são sentidas por todos. Mais uma vez presencio a chuva (por sorte) em casa, pois se estivesse fora provavelmente teria ficado dentro do carro ou do ônibus, já que o acesso pela Via Expressa estava impossibilitado, dado o volume de água acumulado na popularmente chamada "lagoa da coca-cola".
Muito se fala sobre as forças da natureza, mas sempre aqueles que falam disso se esquecem que o homem, que ajudou para que tais eventos venham ocorrendo com cada vez mais frequência, também pode atenuar os seus efeitos, já que impedi-los seria impossível. E por que falo isso?
Porque vivo no mesmo bairro de Maceió há 8 anos, e todos os anos os mesmos problemas se repetem, variando apenas na gravidade dos efeitos sentidos pela população. Dessa vez, por sorte, não choveu mais meia hora, porque se isso tivesse acontecido, a enchente vista e sentida pela população da região onde moro teria se repetido, e pelas mesmas causas de antes. É uma verdadeira sucessão de "novas velhas notícias".
A lagoa da coca-cola transbordou. Claro que isso aconteceria novamente, era só questão de tempo para que o problema se repetisse. Só que dessa vez, mais pessoas foram atingidas. Além das habituais enchentes no Salvador Lyra, Dubeaux Leão e distrito industrial, de um lado, também dessa vez algumas áreas que não costumam inundar tanto, como o Village I, também foram afetados. E o que há de novo nisso? O Conjunto Ernesto Maranhão, que nem tinha saido do papel em 2004, naquela grande enchente, dessa vez incluído no mapa e localizado entre o Residencial Tabuleiro e o Acauã sofreu também as consequências. Pessoas que residem lá contaram que a água invadiu as casas e que os moradores, no desespero, começaram a furar os muros do conjunto, que é um condomínio fechado, para que a água escoasse. E quem sofreu com isso? Os moradores do Village Campestre I. A escola Hévia Valéria, municipal, ficou debaixo d'água e as aulas foram suspensas.
Do lado do Graciliano Ramos, novamente a Avenida Principal ficou igual a um rio, cheio d'água e intransitável. Os ônibus que conseguiam passar pelo aguaceiro não conseguiam chegar ao terminal e ficaram na praça Graciliano Ramos, que fica no início do Conjunto. Quem se aventurou a ir até o terminal se deparou com muita água. Tanto que um desafortunado motorista tentou passar pelo aguaceiro e acabou batendo o carro próximo a um bueiro, tendo que ser guinchado depois que a água baixou, depois das 5 da tarde.
Na outra Avenida Principal, onde moro, a água chegou ao nível das calçadas, mas não entrou em nenhuma casa. Mas a imagem dava medo: a Avenida, que é bem larga, com 4 faixas de rolamento, ficou completamente tomada pela água. Só dava para atravessar a rua passando pelas lombadas. Eita que até me lembrei de um outro lugar onde a gente só atravessa em dia de chuva pela lombada. Mas esse falo em seguida. No açude que recebe as águas da chuva, ainda no Graciliano, o nível, se não transbordou, chegou perto.
No Acauã, as ruas mais baixas juntaram tanta água que as pessoas tinham que atravessa-las com água quase na altura do joelho. Como todas as transversais nesses conjuntos são ruas de terra, não dava para distinguir o que era rua ou o que era calçada, porque as águas tomaram toda a rua.
A causa disso, outra nova velha notícia. A prefeitura asfaltou o corredor de ônibus e todo mundo achou maravilhoso, especialmente por ter sido feita a obra quase em tempo recorde. Mas tudo isso teve um motivo: em 2007, quando a obra foi feita, a prefeitura passou o asfalto em cima da terra. E só. Nenhuma tubulação para captação de água da chuva foi colocada e então para onde vai toda essa água? Para as 2 avenidas principais do Graciliano Ramos, que são as únicas que têm galerias pluviais. Resultado: os rios temporários criados em toda chuvarada que dá por aqui.
Mas o pior ainda vem: a UFAL suspendeu as aulas, ainda à tarde, porque a água chegou a invadir algumas salas de aula, segundo informações, no CHLA, Centro onde estão localizados cursos como Letras, Psicologia e História, por exemplo. Essa é uma das notícias mais velhas, que se repetem a cada chuva. A própria prefeitura universitária, há anos, tenta fazer uma obra que possa conter a força das águas da chuva, mas não conseguem. Ano após ano, o calçamento da Avenida do Campus é rasgado para que novas obras sejam feitas e todo ano a UFAL enche. A questão é que as obras são sempre feitas para dar um escoamento às águas da chuva, mas ninguém até hoje encontrou uma solução para que as águas tenham um destino diferente do de serem despejadas em uma pequena lagoa, que fica nos fundos da Universidade e que ainda recebe as águas de outras casas próximas ao campus.
Isso sem falar no Eustáquio Gomes, Inocoop e outros tantos conjuntos, localizados entre a UFAL e o Aeroporto, que sentiram os mesmos efeitos da chuva.
Mas tudo isso um dia pode mudar. O problema é quando isso irá acontecer.
Que a chuva de hoje foi muito forte, disso ninguém duvida. Que é impossível prever a intensidade das forças da natureza, isso é mais do que certo. Mas que prevenção sempre é bom, mas que aqui em Maceió isso nunca é feito, isso é outra certeza.
Todo esse problema poderia ser minimizado com uma grande obra de saneamento básico da parte alta da cidade. Os bairros do Tabuleiro, Cidade Universitária, Benedito Bentes, Eustáquio Gomes, Clima Bom, entre outros, deveriam passar por esse processo. O que ocorre hoje é que todas as águas pluviais do lado da Via Expressa, incluindo até a região do Aeroporto, são mandadas para um único açude, o da coca-cola. Com isso, logicamente com um grande volume de chuva, as chances de transbordamento são grandes. Pior do que isso só o efeito cascata (literalmente) sofrido pelas populações mais pobres da parte baixa da cidade. Toda essa água acumulada aqui da parte da cima da cidade são enviadas da lagoa da coca-cola para os rios próximos e toda essa água vai para o mar, passando por lugares onde as casas ficam ao nível dos rios. Essa forma perversa de se livrar das águas pluviais poderia ser minimizada com iniciativas diferentes, ou mesmo com um plano de escoamento de águas diferente do que é praticado hoje, que é feito com a construção de diversos açudes que só acumulam água sem tratamento algum.
A grande tristeza, além dos prejuízos causados às pessoas, é saber que toda essa água irá embora sem que nada seja aproveitado, ou que ela se acumulará a outras quantidades ainda maiores de água suja, vinda de rios que não recebem cuidado algum por parte do poder público.
Mais uma vez, cabe à população cobrar das autoridades iniciativas concretas para mudar esse quadro. E também cabe a essa mesma população a tomada de consciência de que pequenas atitudes também podem fazer a diferença entre a água que vai embora, apenas causando temor e a água que fica empoçada, trazendo o horror de uma casa inundada, porque o bueiro simplesmente está entupido por causa do lixo que a própria população joga diariamente nas ruas e calçadas da cidade.
Aqui mesmo, na frente da loja de meus pais, há um bueiro, uma "boca de lobo". Quantas não foram as vezes que limpamos aqui o bueiro e tiramos coisas das mais inusitadas, que poderiam obstruir a passagem da água num dia de chuva como foi o dessa terça-feira? Já achamos de sacos de pipoca e salgadinho até tamancos e sandálias femininas, restos de cadeiras e até já vimos gente que despeja um carro de mão inteiro com areia dentro da boca de lobo, como se ali fosse uma lixeira gigante que pudesse comportar tudo aquilo! É um verdadeiro absurdo que, diariamente, são retirados por nós, nessa boca de lobo, dezenas de sacolas plásticas e outros objetos que são jogados pela população com a maior naturalidade na rua, quando o certo seria, na ausência do poder público, que não coloca lixeiras nas calçadas, que as próprias pessoas guardassem o lixo em bolsas plásticas, para que jogassem fora ao chegar em casa. Mas essa falta de educação popular passa pela falta de informação e de educação escolar, o que é algo costumeiro especialmente no estado de Alagoas.
Mais uma vez digo que, enquanto a política alagoana se preocupar apenas com verbas de gabinete e com o calçamento de ruas e avenidas sem que pelo menos as galerias pluviais sejam feitas (o que é difícil, já que obra que está debaixo do chão o povo não vê e portanto não dá voto) essas novas velhas notícias vão se repetir por muitos mais finais de mês de maio.
Infelizmente, essa é a realidade.
Mais uma vez, a lagoa da coca-cola transbordou

2 comentários:

  1. Notícia velha, problema sempre atual: as enchentes na Bacia do Tabuleiro. Associações do Salvador Lyra, Dubeaux Leão e do Largo da Rua Codeal levam ao MPF um pedido de socorro. Será que a Lagoa do Graciliano resolveu o problema por lá? Estamos buscando imagens, contatos para marlucec@gmail.com

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  2. Olha, sinceramente a lagoa do Graciliano Ramos já esteve mais bem cuidada do que nos dias atuais, mas a culpa ainda é principalmente da população. Nesta última sexta-feira choveu forte na região e a lagoa transbordou mais uma vez. O motivo: excesso de lixo depositado pelos próprios moradores na lagoa. Até hoje pode-se encontrar restos de sofás, colchões, selas de cavalo, pneus e outras coisas que são jogadas pela própria população, o que dificulta o escoamento da água da chuva para as outras lagoas do sistema de escoamento pluvial. Assim, a prefeitura tem sua parcela de culpa, mas a falta de educação de boa parte da população ainda dificulta bastante a aplicação efetiva das políticas públicas de prevenção e de combate às enchentes. Porém, a iniciativa das associações de bairro citadas por você é válida, com toda certeza, até mesmo para que se busque um trabalho educativo junto às próprias populações envolvidas com estes transtornos.

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